MERCANTILIZAR OS NOSSOS CORPOS TAMBÉM É VIOLÊNCIA

Novembro 24, 2018 | Em destaque, Feminismo e Antipatriarcado

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Com motivo deste 25 de Novembro, a Comissom Nacional da Mulher de BRIGA quer fazer a seguinte reflexom:

MERCANTILIZAR OS NOSSOS CORPOS TAMBÉM É VIOLÊNCIA

Cada minuto de cada hora e de cada dia umha mulher sofre múltiplos tipos de violência. A de tipo mercantil é umha mais de todas as possíveis. Violência simbólica que tem a sua repercusom no plano material. Já que o sistema capitalista explora e coisifica as mulheres. Na sociedade do espectáculo, a mercantilizaçom dos corpos é apresentada como o exercício dumha “nova cidadania”, inscrita num transgressor discurso emancipatório dos corpos. A história da humanidade, desde umha perspectiva crítica feminista, supujo a história dum fracasso a respeito dos direitos das mulheres. Ademais, os contra-sensos de submeter os corpos das mulheres e a maternidade à lógica do mercado chegam ser ferintes. A mercantilizaçom dos corpos das mulheres, já seja para objetivos sexuais ou reprodutivos, é um dos retos que a bioética neoliberal nom quer enfrentar. Umha individualidade abstracta, descontextualizada e supostamente nom condicionada pola necessidade ou a precariedade;em definitiva, supeditada à miséria.

Existe umha relaçom de atividades econômicas vinculadas á mercantilizaçom dos corpos das mulheres. Em primeiro lugar, a gestaçom por substituiçom, dentro da lógica capitalista, mercantiliza os corpos das mulheres com fins reprodutivos. Esta bioética neoliberal desconta as questons relacionadas com a justiça e a igualdade para só apelar à autonomia, ao suposto livre consentimento sem analisar as questons ligadas às desigualdades de classe social, gênero ou incluso de localizaçom geográfica e geopolítica, dado que a tendência é que as parelhas dos países desenvolvidos contratem os serviços, via agências mediadoras, de mulheres dos países empobrecidos. Um mercado transnacional de bebês por encarrego, dum lado, e doutro, dado a nom armonizaçom das legislaçons, a existência de bebês apátridas som duas vias para considerar, mas tambén, o papel subsidiário das gestantes convertidas em meios de produçom de bebês ou em propriedades imobiliárias, dado que os contratos sobre os úteros emulam a figura do “aluguer”. Anatomia volve ser destino para as mulheres. Mas nom só, a dessacralizaçom da maternidade, um poderoso complexo simbólico em toda cultura, exige-se de hoje para amanhá. Aos riscos físicos derivados da extrema medicalizaçom do procedimento somam-se-lhe riscos simbólicos. Do que estamos a falar é dum fenômeno de mercantilizaçom dos corpos femininos a escala global, em relaçons transnacionais, e com ânimo de lucro.

Em segundo lugar a prostituçom, que nom é mais que a violaçom sistemática dos corpos das mulheres, por parte dos puteiros, em troca de dinheiro e com a mediaçom dum terceiro, o proxeneta, que se lucra de parte desse intercâmbio assim como exerce o controlo sobre a vida e o corpo da mulher prostituída, que lhe pertence e carece de toda autonomia. E é queA naturalizaçom da mercantilizaçom contribuiu a minimizar realidades mais dramáticas, como que o tráfico de mulheres e nenas para  a exploraçom sexual se incrementou exponencialmente com a globalizaçom neoliberal (estima-se que afeta a por volta de 4,5 milhons de pessoas e cresce mais rapidamente que o tráfico mundial de armas e drogas).

En terceiro lugar o porno. A crítica feminista ao porno, porém, decaiu nas últimas décadas por receio a contradizer à libertaçom sexual, esquecendo que esta nom criticava o sexo explícito, mas a representaçom artificial e estereotipada da mulher-objeto-hipersexual e do sexo centrado no rendimento e nom na emoçom ou o prazer, particularmente feminino. E mália surgir um porno alternativo que racha com os estereótipos, este nom deixa de ser marginal, e umha grande quantidade de jovens educam-se sexualmente com porno tradicional. Ademais esta-se a naturalizar a ideia de comercializar o nosso corpo ou sexualidade, em torno dumha narrativa que romantiza a própria prostituiçom. Proliferam histórias como a de estudantes que subastam a sua virgindade em linha, páginas web de encontro para que jovens atractivas e educadas encontrem um sugar daddy, crowdfunding para moças que vendem as suas fotos e vídeos eróticos; é dizer, normaliza-se a ideia de que “o teu corpo é o caminho mais rápido face a qualquer dos teus sonhos”.

Com umha virulência inédita até os nossos dias, com umhas estratégias cada vez mais agressivas, os meios de comunicaçom e em especial a indústria publicitária insistem em difundir um modelo de beleza que apresenta o corpo das mulheres como um espaço de imperfeiçons que há que corrigir. Imponhem-se-nos dietas, alimentos light, longas sessons de ginásio, spas, produtos de beleza e mesmo cirurgia invasiva. Por que nos submetemos a estas práticas? Quem marca estas pautas? Quem opina e quem decide sobre os nossos corpos? Quem pom tam ingente empenho em gerar insatisfaçom para depois ofertar soluçons? A cultura imperante é cada vez mais violenta com as mulheres, violência física e simbólica. Física, porque se apresenta umha imagem distorsionada do corpo e se incentiva a investir tempo, dinheiro e energia em tratar de conseguir a qualquer preço, cânones de beleza irreais e inalcançáveis. Simbólica, porque se presenta a beleza nom só como umha questom de aparência, mas também de comportamento, é dizer, para conseguir sucesso social há que adaptar-se e cingir-se aos roles estabelecidos.

Reduzir as mulheres a um corpo nom é um gesto inocente, coloca-as nesta subcategoria e promove a sua objetificazaçom e mercantilizaçom: é baixo este imaginário que hoje florescem as redes globais altamente feminizadas de tráfico laboral e sexual. Nom nos rendemos a aceitar que o mercado nom tem limites no seu triunfante avanço e que alguns e algumhas, os ricos, poidam comprar e vender absolutamente todo. Onde estám os limites do mercado num contexto de liberalismo econômico em simbiose com o patriarcado?

CONTRA TODAS AS FORMAS DE VIOLÊNCIA PATRIARCAL: LUITA FEMINISTA!

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