EDITORIAL DO XERFAS ANALISA A MULTIPLICAÇOM DE CRISES NA JUVENTUDE GALEGA

Agosto 18, 2015 | Em destaque, Xerfas

exteriorComo noutras ocasions, o 24 de julho foi aproveitado para tirar do prelo um novo número do XERFAS, o nosso vozeiro nacional, que volve estar à venda por apenas 1€

Com multidom de conteúdos, o número 14 abre-se com um editorial escrito à volta da conjuntura política em que nos encontramos, a raíz da dissoluçom da organizaçom política NÓS-UP, a tendência à atomizaçom incessante na esquerda nacional, e o papel da juventude revolucionária neste contexto.

Umha crise do nosso projeto político que temos vivido dentro dumha crise imparável da qual já nom se percebe saída: a do capital. O imenso chapapote de precarizaçom laboral, desemprego e emigraçom em que a Galiza jovem sobrevive a Espanha e o Capital parece ter-se instalado inevitavelmente sobre as nossas vidas.

Continuamos a acreditar que só a política operária, impulsionada polo feminismo e o independentismo da juventude rebelde galega, tem a chave para colocar as nossas misérias na lixeira. E queimá-las para sempre. Um objetivo tam utópico como necessário.

A seguir reproduzimos polo seu interesse o editorial deste número de verao do XERFAS:


ESPANHA DECONSTRUIDA, GALIZA EM DECONSTRUÇOM

A demonstraçom de desaprovaçom à simbologia espanhola ocorrida na final da “Copa del Rey” ergueu umha poeira de rechaço mediático. Má educaçom, falta de respeito, incoerência por participar na competiçom, criminalizaçom do protesto, etc. Todos estes argumentos postulárom-se contra umha imensa maioria de basc@s e catalans/ás que, espontaneamente, mostram despreço pola simbologia do Estado existente.

Durante os últimos meses, mesmo sem Lei Mordaça por meio, dúzias de pessoas fôrom detidas como alegadas autoras de delitos contra a moral das vítimas do terrorismo, por ultragem aos símbolos do Estado, por ameaças, incitaçom ao ódio ou enaltecimento do terrorismo utilizando a internet. Um companheiro de BRIGA do sul do País foi objetivo dumha das operaçons. A atitude mediática, como no futebol, voltou a ser a de aplaudir com as orelhas a repressom político-policial.

Também quando um siareiro do Deportivo da Corunha foi assassinado em Madrid numha cilada neonazi, @s siareir@s mais jovens de Corunha, como os doutras claques galegas, fôrom criminalizad@s por utilizar simbologia antiespanhola (entre outras acusaçons, a maioria gratuítas).

Quando @s estudantes galeg@s saírom em 2014 às ruas e acontecérom incidentes com a polícia em Vigo, ou ataques a entidades bancárias e outros comércios de prestígio em Compostela, também recebérom umha desaprovaçom autoritária do poder mediático. Todavia, muit@s fôrom agredid@s, detid@s e condenad@s. 

Em todas estas perseguiçons Espanha identificou os sinais de rebeldia em ámbitos de difusom popular como especialmente perigosos pola sua combinaçom com ingredientes de emancipaçom nacional. Todas aquelas respostas populares mais ou menos espontáneas que canalizam o ódio ao sistema através do imaginário antiespanhol som particularmente criminalizadas utilizando categorias delitivas agravadas.

A existência de grupos descontrolados nos estádios de futebol, nas redes sociais ou nas ruas do País nom som umha novidade nem som necessariamente um problema para o poder. Mas há dous fatores que contribuem para categorizá-las como altamente perigosas: 1) A falta de frentes de combate internos para as forças repressivas, que deriva em operaçons policiais a níveis sociais mui básicos 2) O aumento dos orçamentos em investimento anti-motim dos corpos policiais, o treino contrainsurgente, o material antidistúrbios, e o aumento de pessoal dedicado a tarefas de controlo e seguimento de ativistas (serviços de “inteligência”), com a subsequente vigiláncia intensiva e policializaçom da vida pública e privada.

Com independência do interessantísimo debate sobre se a questom nacional é umha questom meramente funcional à luita social ou “algo mais”, nom há lugar do planeta em que umha identidade coletiva erigida como veículo de emancipaçom nom seja um poderoso agente contra o poder constituido. Seja umha identidade nacional, sexual, religiosa, etc., a sua irreverência ao presente dota o coletivo dum dos mais temíveis fatores de uniom da resistência emancipatória. Com tam só ser por isto, o facto de manter, aprofundar e espalhar a nossa naçom é um dos melhores relatos com que podemos fortificar o combate ao capitalismo, encarnado aqui na “marca España”. Quem nom o compreende, em chaves progressistas espanholas, ou relativiza o seu valor, reduzindo com folclorismos e rituais algo tam fermoso e multicolor como é a identidade dum povo, parte dumha análise da realidade tam diametralmente afastada de nós, que dificilmente nos pode acompanhar numha emancipaçom mais global. E nunca, com certeza, dirigir-nos.

EM PLENA CRISE, AS TRINCHEIRAS ESTÁM NAS URNAS

Obviamente, os sindicatos do regimem nom se atrevem a agitar a situaçom. O incremento das diferenças sociais, o desangramento juvenil do país, o fastio depois de tantos anos de crise capitalista, ou as implacáveis condiçons de precariedade laboral impedem que UGT ou CCOO avancem cara a um cenário de confronto com o poder. Qualquer passo adiante pode desestabilizar muito o panorama. Após as greves gerais estatias de 2010 e dúas em 2012, com umha galega em 2011, o clima de contestaçom parecia adoptar umha cadência intensiva. Desde entom, nunca mais se volveu saber de qualquer resposta firme, séria e de classe do sindicalismo maioritário, descendo em Galiza em 60% (!!!) em 2014 as convocatórias de contestaçom no mundo do trabalho com respeito a 2013.

Tampouco PSOE, IU ou Podemos tenhem a necessidade de chamar à paralisaçom social com protestos contínuos, coordenados em diversas frentes, que questionem o monopólio da violência e ponham o poder contra as cordas. Isto está fora de ordem. No seu lugar tem-se priorizado, nom só com o consentimento, mas com a colaboraçom mediática, a alternativa eleitoral. 

Tem-se criado um estado de esperança coletiva com o advenimento dum novo governo que achegue as instituiçons da cidadania e acabe por arte de magia com a pobreza, a exclusom, a violência machista, a emigraçom, e recupere os mais básicos serviços sociais a começar pola sanidade, a educaçom, a vivenda e a atençom à dependência. 

Nom vamos caír no simplismo de dizer que nada se pode conseguir governando as instituiçons existentes, nem negando-nos a aproveitar a sua utilidade. Trata-se de mostrar a nossa confiança em que à margem delas há poder popular avondo por criar, e que esteja quem estiver à frente de concelhos, deputaçons, autonomia ou estado, nós cremos nesse outro poder impulsionado pola juventude trabalhadora em todos os espaços da nossa realizaçom como seres sociais.

A DESCOLOCAÇOM DA GALIZA REBELDE NO CONTEXTO ATUAL

O poder está a saber interpretar a situaçom. Está a oferecer caminhos e fórmulas mais ou menos novidosas que mantenhem a ilusom num futuro melhor. Quem mais, quem menos, quase tod@s temos a necessidade de aferrar-nos no nosso dia-a-dia a algo prático e imediato no que confiar. Este instinto de sobrevivência entre as adversidades, fonte de todo ánimo religioso, é humano. 

O sentido do momento histórico é essencial para nom perder-nos em interpretaçons da realidade realizadas à margem dela. A interpretaçom que como revolucionári@s devemos fazer é aquela que “fai revoluçom”, isto é, aquela que suscita “movimento” no nosso contorno. Feita, pois, nom desde torres de marfim recitando o mantra da razom, mas de dentro da sociedade, do mundo do trabalho, da mulher e das opressons quotidianas, onde a razom prática domina a razom teórica. 

Quando o resultado da nossa crítica e autocrítica é apenas um eco, devemos evitar a frustraçom da marginalidade revisando o discurso. Nom é apenas questom de formular leituras acertadas da realidade; é questom de que estas leituras nom sejam opacas à capacidade de percepçom da maioria social que representa o povo trabalhador do que fazemos parte. 

Ao longo de mais de dez anos, em BRIGA temos experimentado o desassossego gerado pola falta de resultados visíveis e imediatos. Estamos educad@s na resistência sem prémios nem privilégios. Mas umha cousa é ter princípios e outra a cegueira voluntária ou a autosatisfaçom marginal. Quizais recebemos menos prémios dos que seria conveniente receber para manter a vontade robusta. E é que, quando nom se obtenhem resultados satisfatórios, tam importante como manter a moral de resistência e o orgulho da firmeza, é analisar em quê falhamos.

O conjunto das forças da esquerda nacional, adulta e juvenil, devemos reconhecer o retrocesso histórico na capacidade de intervençom e seduçom políticas; que o país se nos escorre entre os dedos. A brutal voragem de poder institucional e de capacidade mobilizadora do BNG nom se viu refletida num incremento da autoorganizaçom nacional em chaves mais avançadas. A desorganizaçom ou o trasfego a projetos que diluem a autonomia organizativa do país tenhem-se erigido em protagonistas perante um nacionalismo maioritário que tem recuado recentemente de qualquer manobra de entendimento com o independentismo. 

Cumpre ser crític@s com o protagonismo, talvez irreversível, que certo nacionalismo galego está a fazer em favor de opçons difusas em termos nacionais. O revés histórico pode ser monumental. Mas também cumpre sermos autocrític@s e reconhecer que as expetativas criadas entre muit@s jovens por parte desta modalidade de “unidade popular”, seja AGE ou Marés, está mui longe da infrutuosa e diletante letania em que a esquerda patriótica, no seu conjunto, se está a ubicar. Ou mais bem, a desubicar. Nom demos apenas voltas a aquilo de que nom gostamos; perguntemo-nos em que tropeçamos nós.

A JUVENTUDE PATRIÓTICA, ÚNICA GARANTIA DE SALVAÇOM NACIONAL

A desapariçom no passado curso político da organizaçom decana do independentismo juvenil, a AMI, podia fazer pressagiar um contexto de “decantaçom” que simplificasse o mapa organizativo juvenil. Mas, ao contrário, no último ano Galiza Nova passou a autodenominar-se organizaçom independentista, colocando-se virtualmente no mesmo plano político que ISCA!, XEIRA e BRIGA, e mais umha nova entidade fijo apariçom, TERRA. Nada mais longe da nossa vontade que julgar a conveniência de constituir espaços organizativos particulares ou estimar como desnecessários uns e necessário o nosso. Mas na linha que encetamos encima, cumpre reconhecer que em mais de umha década, havendo mesmo umha íntegra renovaçom generacional, nada tem acreditado que esta hipertrófia de coletivos achegue melhoras para a luita independentista, socialista e feminista, nem que esteja a afiançar os esteios necessários para umha mudança de rumo que achamos necessária.

Necessária… porque? A menos que alguém assim o interpretar, a jornada conjunta do 24 de julho nom pode ser umha romaria para agochar a teimuda incapacidade de 5 entidades juvenis independentistas galegas para fazer atos dignos isoladamente. Se alguém concebe esta data como um circo para evitar o ridículo de ir sós, está a jogar na política-espetáculo. Para nós, a unidade de 24 de julho começou após vários anos de mobilizaçons pola nossa conta. Para nós, o significado dum 24 de julho unitário estriba em dous aspetos: 1) O poder simbólico dumha mobilizaçom de centos de jovens a reclamarmos a independência para o nosso país, aglutinadora de mais jovens que a soma das convocatórias por separado 2) Alimentar um processo de confraternizaçom que continue no resto do curso político com um programa de trabalho unitário a nível nacional que reproduza os espaços de conhecimento mútuo, de troca de experiências e de achegamento progressivo.

Entender a manifestaçom unitária do 24 de julho sem assumir o segundo ponto é dum raquitismo político contraproducente, enganoso e reacionário. Nós nom temos medo a alargar os momentos de convivência. Ao contrário, consideramo-los parte indispensável da configuraçom dum projeto de naçom renovado, expansivo e inclusivo. Porém, predominam as mostras de ineficácia do trabalho unitário o resto do ano: quer priorizando a confluência com um mundo alheio ao da Galiza soberanista, quer desleixando este frente unitário. Isto fai com que devamos ler criticamente o 24 de julho, como a honrosa excepçom para “permitir-nos ser aquilo que dizemos ser”: independentistas sem um apego banal às nossas siglas, dispost@s a avançar na unidade. É assim?

Afortunadamente para nós, esta manifestaçom prévia ao Dia da Pátria é umha demonstraçom de força nacional de que poucos territórios do Estado podem pressumir. Há, ainda, umha massa juvenil mais do que suficiente para artelhar projetos centrados no País. Oxalá muitos Povos pudessem dizer o mesmo!

O que precisamos concretar é a forma em que este potencial de país, vivo malia os milhares de jovens emigrad@s, deve enfrentar-se ao próximo curto-meio praço. Um período que vai ser determinante para a reabertura dum processo de enfrentamento nacional firme contra Espanha, ou um afogamento quase irreversível de Galiza como naçom. Temos pois a matéria e as ferramentas. Falta que decidamos o molde mais conveniente para armar-nos da melhor estrutura organizativa, ampla na esquerda, conscientemente galega e antiespanhola, e radicalmente feminista. 

Frente às adversidades, devemos mostrar astúcia e habilidade. E frente à resignaçom e a inércia, valentia e vontade de transformar o nosso presente a mais e melhor. Queremos! Somamos?

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