[8-M] AS MULHERES TRABALHADORAS SEMPRE SOSTIVEMOS O MUNDO

Março 1, 2020 | Em destaque, Feminismo e Antipatriarcado

COMUNICADO 8M. AS MULHERES TRABALHADORAS SEMPRE SOSTIVEMOS O MUNDO

Em 2020, as mulheres trabalhadoras seguimos a soster o mundo. Surpreende, nom é? Fazemo-lo, ainda, numhas condiçons de maior dureza e precariedade. E isto, apesar do feminismo.

Segundo dados de 2016, somos mais mulheres do que homens as que trabalhamos os 7 dias da semana. E, no outro extremo da precariedade, no dos empregos de menos horário e polo tanto pior pagos, 7’36% trabalha 4 dias na semana ou menos, frente 3’43% de homens. O tipo de jornada também é sintomático. A modalidade de partido (com polo menos umha hora para jantar), comum na economia galega mas que apresenta sérias dificuldades para a conciliaçom familiar, abunda entre os homens, que se ocupam nela em 56’78%, mentres que nas galegas assalariadas isto só representa 38’04%. Ocupamos a maior parte dos postos em jornada contínua de tarde ou de manhá, com umha diferença de até 12 pontos percentuais no último dos casos com respeito ao outro género.

O número de cuidadoras/es na Galiza aumentou em 21’53% desde 2011 até 2017, assim como o número de dependentes. Chama a atençom que entre as cuidadoras de dentro do próprio fogar medra sobretodo a quantidade de mulheres entre 45-64 anos e, muito especialmente, as maiores de 65. Mas quê acontece com as mulheres novas?

Os dados revelam que emigramos mais, mas a um destino mais próximo do que os homens. Entre quem ficamos no País, em 2019 66’4% dos jovens entre 16 e 29 anos estavam ocupados, 52’7% a jornada completa e 13’7% a parcial. No caso feminino, a ocupaçom rondava 55’9%, 36’7% a completa e 19’2% a parcial. Entre 2011 e 2019 perderam-se mais empregos femininos do que masculinos no nosso segmento de idade. Mas, o que é mais grave, do total de mulheres ocupadas, 88’73% o estám no setor serviços, frente a 64’61% de homens.

A nossa situaçom piora, salta à vista. A do conjunto das mulheres e sobretudo a das jovens deste País, que nos vemos obrigadas a escolher só entre emigraçom e trabalho ultra-precário, ao contrário dos nossos companheiros, que podem aceder a maiores salários em melhores condiçons laborais e para setores mais diversos. O sesgo de género é portanto evidente. Esta dura realidade choca de frente com a expansom ideológica do feminismo. Poucas moças há neste País que nom se identifiquem com esta categoria. As manifestaçons sacam às ruas a milheiros e milheiros de mulheres a berrar consignas sobre a igualdade. Semelha um movimento imparável.

E em câmbio, se olharmos para as vitórias que temos conseguido para as mulheres, desde a queda da Lei Gallardón em 2014 nom podemos atopar praticamente nengumha. A que se pode dever esta desproporçom entre mobilizaçom e ganhos? A pouco que analisemos os dados achegados e a situaçom geral da mulher chegamos à conclussom de que nos encontramos numha etapa de mudanças. 

O Patriarcado muda; ao igual que o Capital no seu conjunto, precisa de câmbios para que o seu ritmo de ganhos nom decresça. E para isso desenvolve ofensivas. Os cuidados estám a ser um desses campos de batalha preferentes, onde apenas se encontra resistência (com heróicas exceçons, como o das trabalhadoras das residências de Biskaia, que estivérom mais dum ano em greve para acadar melhoras laborais). Já analisamos anteriormente como a sua demanda medrou especialmente na última década. A forma em que está sendo atendida, por todo um exército de mulheres, dista muito do que o feminismo reclamou historicamente. As tendências atuais apontam a que nom só nom está a ser compartilhada com os homens, mas tampouco entre a totalidade do nosso próprio género. Umha quantidade importante de mulheres está a se especializar nos cuidados, de maneira profissional, para que umhas poucas poidam renunciar a umha parte dessa cárrega. Essa “profissionalizaçom” nom vai acompanhada, como sim ocorre noutros âmbitos, dumha melhora salarial, mas afunda na eterna precariedade do setor. Nom, o feminismo nom é situaçom de miséria para muitas, respiraçom artificial para poucas (prévio pago), e homens sem assumir responsabilidades nos cuidados familiares. Mas este é o rumo que está a levar o Patriarcado, e nom estamos a artelhar umha resposta específica.

Há cousas que nom devemos obviar. O mercado nom deixou de ter necessidades antagônicas às nossas, nem renunciou às mulheres, os nossos corpos e o nosso trabalho, como ponta de lança dos seus novos ataques. Tampouco o Patriarcado é um sistema de ideias estanco, eterno, ou cuja saúde dependa em exclusiva do jeito de pensar dumha sociedade determinada, que cairá quando todas o achemos incorreto. Cairá se libramos batalhas, se lhe ganhamos terreno a base de conquistar direitos, sem cedê-los.

Devemos analisar esta realidade e outras, dotar-nos das ferramentas teóricas, para compreendê-la, e organizativas, para combatê-la. Diminuir a vantagem que nos levam, evitando que a fenda que nos separa se faga algum dia insalvável. BRIGA nom pode, nem deve, apartar-se da denúncia desta situaçom; o contrário seria cómodo e infiel à luita das mulheres. A luita feita por e para nós, que conserve os direitos conquistados e trabalhe por outros novos. Que procure melhoras reais e nom simbólicas, a través de batalhas reais e nom simbólicas.

Por isso nom assumimos os argumentos que desbotam a greve de mulheres deste 8 de março como um mecanismo útil de luita, e que priorizam modelos que redundam na visibilidade. Acreditamos no potencial transformador do paro dos cuidados, nom só pola imagem mediática, mas porque constitui umha demonstraçom científica de que o sistema económico perde sem o nosso trabalho. Essa materialidade é a que achamos que está a perder o feminismo e é, como já manifestamos anteriormente, o que queremos recuperar.

Parar é umha necessidade para as mais castigadas polo modelo económico; negá-lo nom só é anti-histórico, também umha maneira subtil de assumir o papel desigual que nos toca por razom de género. O avanço galopante e diário do Patriarcado alimenta-se na falta de resposta. Por isso é importante trabalhar por umha acumulaçom de forças que saque às ruas às mulheres, às que sostemos o mundo, numha greve que conte com garantias de éxito e que exija mudanças aqui e agora, porque nos fazem muita falta.

Compreendemos que as e os atuais abandeirados do feminismo, aqueles que sentam nas cadeiras dos governos que nós limpamos, nom tenham nengumha vontade de pôr o foco nas tendências ultra-liberais responsáveis de piorar cada dia a vida das mulheres trabalhadoras. Precisamente, BRIGA conhece a sua funçom, que nom é outra que fornecer às jovens das camadas populares de ferramentas para enfrentá-los, para que nom nos sigam comendo caminho e poder-nos rearmar. O feminismo é, ante todo, o movimento para respostar ao Patriarcado, usemo-lo!

Viva o Dia da Mulher Trabalhadora!

8M---BRIGA---CARTAZ-3