25N – Roubar-nos a mocidade é violência

Novembro 25, 2020 | Em destaque

O 25 de novembro, o dia contra as violências machistas, é já reivindicado pola grande maioria da populaçom. É difícil encontrar alguém que defenda o uso da violência com sesgo de género, polo menos abertamente. Porém, é importante conhecermos em quê consiste a violência que o patriarcado exerce contra nós, as mulheres (especialmente as mais novas) e, sobretudo, quais som as causas desta.

A dominaçom e abuso dos homens sobre as mulheres no plano psicológico, físico ou sexual, nom som casualidades ou acontecimentos isolados que devemos tratar: existem porque o sistema precisa que existam. Cumpre ter isto mui presente, já que hoje escuitaremos falar da hipocrisia sistémica, que condena a violência apenas um dia por ano mas a ignora-a e permite-a o resto do tempo. Temos que reparar em que o sistema nom permite esta violência por desleixo ou desinteresse, mas alimenta-a por necessidade, porque precisa dela para sobreviver.

Quando falamos de sistema nom estamos a referir-nos apenas ao patriarcal, mas também ao capitalista. Ambos precisam da opressom da mulher para seguir mantendo umha subordinaçom que permita e facilite a acumulaçom de riqueza da classe dominante. E como é que se materializa essa subordinaçom? Através da violência. Portanto, a violência patriarcal nom é mais do que a ferramenta que a classe opressora utiliza para manter as estruturas que lhe permitem conservar o seu poder: o patriarcado e o capital.

É violência necessária, portanto, que as mulheres vivamos desde sempre numhas condiçons mais precárias do que os homens: trabalhamos mais dias por semana, por menos salário (e, na outra ponta, temos mais trabalhos por horas, perdendo qualquer opçom de estabilidade), reservam-se-nos os trabalhos de cuidados que som ademais sempre pior pagos, etc. E a situaçom é ainda mais grave no caso das mulheres novas (entre 16 e 29 anos): emigramos mais do que o homens da mesma idade, se conseguimos ficar no país, temos por volta de 15% menos de possibilidades de encontrar trabalho e, de encontrá-lo, é mais provável que para os homens da mesma idade que este seja a tempo parcial e com um salário inferior. Ademais, nesta faixa de idade, a ocupaçom do setor serviços na Galiza compreende em torno de 25% mais de mulheres do que homens.

Como vemos, a precariedade a que nos submetem patriarcado e capital nom é algo novo, mas como tem acontecido umha e outra vez ao longo da história, quando o sistema quebra, as mulheres somos as primeiras em pagá-lo, sobre todo as mais novas. Vimo-lo claramente na crise de 2008 e estamos a vê-lo na nova crise que estourou em março. Pudemos ver como esta pujo de relevância a importância dos trabalhos que exercemos maioritariamente as mulheres: cuidadoras, limpadoras, enfermeiras, auxiliares, pessoal sanitário em geral, pessoal de assistência… As mulheres ocupamos 70% dos postos do setor sócio-sanitário, o que supom umha exposiçom mais direta às infeçons e, portanto, um risco muito maior num contexto de pandemia. Ao mesmo tempo, estes trabalhos ocupados maioritariamente por mulheres desenvolvem-se em condiçons laborais muito piores que aqueles em que homens tenhem mais relevância. Calcula-se que, de média, um trabalhador do setor sanitário e serviços sociais cobra 10.000€ mais cada ano do que umha trabalhadora do mesmo setor. Esta é umha cifra que, contra o que se poda esperar, leva em aumento constante desde que se começárom a recolher dados, há mais dumha década. Contudo, os dados recolhidos até o de agora, compreendem apenas às mulheres que tenhem um contrato laboral. É dizer, estes alarmantes números representam só, ironicamente, aquelas mulheres da classe trabalhadora com melhores condiçons. Existe, porém, umha alta percentagem de mulheres em situaçons laborais ainda mais precárias que as exponhem a umha maior invisibilidade, instabilidade e vulnerabilidade.

Todo isto piora, como é também costume, para as mulheres novas. A mocidade em geral é o setor da populaçom que sai pior parado desta crise: mais desemprego, precariedade e pobreza. Mas segundo todos os dados somos nós, as mulheres novas, o coletivo mais afetado laboralmente por esta crise que começa. No âmbito estudantil, a própria ONU reconhece que os confinamentos e fechamentos de centros potenciam a desigualdade de género dentro das classes populares, já que somos as mulheres quem teremos que desatender os nossos estudos primeiro para atender outras necessidades, maioritariamente de cuidados, criadas pola crise. Isto, por suposto, agrava-se ainda mais no âmbito rural onde as possibilidades de conexom e acesso à educaçom nesta época som menores. Ademais, esta nova crise (igual que aconteceu em 2008) potencia a tendência à alça do número de jovens sem emprego, sem educaçom e sem formaçom que se vinha a dar nos últimos anos, das quais dous tercios somos mulheres. Além disto, de novo, os setores maioritariamente ocupados por mulheres novas som os mais prejudicados pola crise: comercio, educaçom, moda, turismo, hotelaria e serviços em geral. Em definitiva, esta crise está a fazer e fará com que as mulheres novas enfrentemos um futuro laboral ainda mais precário e incerto: salários mais baixos, menos horas de trabalho (ou mais sem remuneraçom), mais expedientes laborais e despedimentos definitivos etc.

E é toda esta violência a que o sistema precisa exercer sobre nós para manter-se e sair o melhor possível das crises cíclicas que antecipam a sua desapariçom. É esta realidade a que temos que compreender, denunciar e combater. Berrar alto é claro que forçar-nos, polo feito de sermos mulheres novas da classe trabalhadora, a malviver, a emigrar, a mercantilizar os nossos corpos, a vendê-lo absolutamente todo, a entregar em definitiva, a nossa vida e a nossa mocidade, também é violência. Por isso este 25-N saímos à rua para exigir vitórias e melhoras reais no campo do material, para sairmos do anedótico e do simbólico, porque roubar-nos a mocidade é violência.


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